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A história de Zé Manoel e de muitos pretos

Cantor, compositor e pianista pernambucano lança álbum com várias referências de negritude. Ouça!

31 de dezembro - 2020 às 11h10
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Ana Cristina Pereira / Correio*

Ouvir o álbum Do Meu Coração Nu, do cantor, compositor e pianista pernambucano Zé Manoel, soa como uma alento nestes tempos bicudos. Tanto pela sonoridade delicada e marcante  quanto pela narrativa necessária sobre negritude, dores e curas, da perspectiva de quem precisa e quer contar sua própria história. Não por acaso, entre as dez canções tem dois prelúdios que fazem a síntese do que ele quer dizer: Escuta Beatriz Nascimento e Escuta Letieres Leite. O primeiro é uma fala da historiadora sergipana, retirada do documentário O Negro da Senzala ao Soul e que fala da invisibilidade do negro e do índio no país; o segundo é um áudio de WhatApp do músico baiano defendendo a matriz afro-brasileira, tanto no baião de Luiz Gonzaga quanto no toque do piano de Antonio Carlos Jobim. 

”Comecei a sentir a necessidade, há alguns anos, de falar destas questões, mas não pretendo ter um lugar de protagonismo nesta história, falo como músico, a partir de coisas que me atravessam”, afirma o artista de 39 anos, que mora em São Paulo, mas no momento passa a quarentena em Recife. A canção História Antiga resume bem o questão, denunciado um “estado genocida de armas apontadas”  para jovens negros, mas reivindicando  paz e justiça pela ancestralidade e força de Xangô. Esta canção dialoga diretamente com No Rio das Lembranças,  parceria de Zé com o cantor Guitinho da Xambá, que evoca a proteção de Oxum e conta com participação do Grupo Bongar, do terreiro do Xambá, de Olinda. 

Zé Manoel conta que não é iniciado no candomblé, mas através de vários amigos, criou uma relação de muito “respeito e interesse” pelas tradições da religião. “Queria trazer para o disco referências da cultura preta de várias frentes”, diz o músico, que conta com várias participações e homenageia o grupo baiano Ticoãs na faixa Adupê Obaluaê, que fecha o álbum. 
 


O título-refrão, conta o artista, o acompanhou durante toda a feitura do álbum, “evocando a cura a todos os nossos traumas e feridas e a todos nós, que nesse momento atravessamos juntos uma pandemia. Uma canção de cura através da dança”, resume. O desejo ganhou mais sentido na esperança de cura do amigo e produtor Luisão Pereira, que descobriu um câncer no meio do processo de produção e chegou a trabalhar no hospital no álbum.

Além de Luisão e Letieres, outros baianos marcam presença  no projeto, como a cantora Luedji Luna (na romântica Não Negue, que fala de amor entre negros) e o dançarino e diretor Gil Santos, que encarna o orixá e dirige o clipe de Adupê Obaluaê, gravado em Salvador. “Ele me deu a honra de volta a dançar neste trabalho”, comemora. A faixa tem arranjos de sopros de Letieres Leite e bateria de Tedy Santana. “Este é o meu álbum mais baiano”, brinca.

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