Daniel Pinto
Hoje, 3 de abril de 2015, quando os católicos celebram a sexta-feira santa, vou deixar a objetividade jornalística de lado e passar por cima dos critérios de noticiabilidade para compartilhar com os leitores e amigos do Sertão Baiano uma tradicional receita da minha tia Valnizia Pinto. Neste dia em que a carne vermelha não é vista com bons olhos, a pedida vai ser moqueca de caçonete com camarão fresco. Tudo começa com a escolha de bons pescados: no caso do caçonete, que geralmente é vendido em postas, é preciso que o aspecto seja saudável, a carne tenha a cor viva e textura macia; o camarão fresco deve ter cheiro suave, casca brilhante e cabeça junto ao corpo, numa composição firme e de coloração natural.
O ideal, segundo minha tia, é deixar o peixe no tempero por (pelo menos) 8 horas. Antes, ele deve ser lavado com água corrente e colocado para marinar no suco de dois limões por 10 minutos. Em seguida, cada posta deve ser passada no tempero que leva azeite doce, alho, pimenta cominho e sal. Agora, é descansar na geladeira... O camarão também é lavado com água corrente e aferventado até mudar de cor. Depois, tem partes da cabeça e “barbatanas” arrancadas cuidadosamente e é lavado novamente. Diferente do caçonete, o camarão é guardado no congelador em um saco de embalagem.
Hora da verdade
No momento do preparo, o caçonete deve ser colocado (com amor e carinho) num refratário, tigela ou panela de barro. Junta-se dois tomates, três cebolas e dois pimentões cortados em rodelas grossas e mais coentro. Depois, acrescenta-se 500 ml de leite de coco. Chegou a hora de levar ao fogo médio. “Quando pegar fervura, é o momento de colocar o azeite de dendê (a gosto). Dez minutos depois vai o camarão. A moqueca cozinha por mais cinco minutos e pronto: é hora de comer. Bom apetite!”, finaliza Valnizia. Para evitar que o peixe pegue no fundo, o segredo e cobrir o recipiente com rodelas de mamão verde.
Molho lambão e acompanhamentos
A receita pode ser acompanhada (simplesmente) por farofa de azeite e arroz branco. Mas, minha família tem uma gostosa tendência para o exagero. Então, a moqueca de caçonete com camarão é servida junto com arroz de leite de coco, caruru, vatapá e feijão fradinho com camarão seco. Outro item de suma importância é o molho lambão feito por outra tia: Valdelice Pinto, especialista nesta arte. O molho da Tia Vardé, como os mais íntimos a tratam, leva pimenta machucada com sal, junto com alho, cebola, coentro, salsa, cebolinha, tomate, pimentão (tudo picadinho) e suco de limão. Em seguida, é só acrescentar o caldo da moqueca e deliciar-se.