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Cidade construída por escravos é exemplo de harmonia entre religiões

Cachoeira era uma das cidades mais prósperas do interior do Nordeste. E do sofrimento nas senzalas surgiu uma confraria religiosa.

25 de março - 2017 às 11h55
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G1

Uma centenária ponte de ferro liga duas das mais antigas cidades do Brasil: São Félix de um lado, Cachoeira do outro. No local, o mar se mistura com as águas doces do Paraguaçu. É como se o rio fosse um braço da Baía de Todos-os-Santos. Por aquele corredor marítimo passava grande parte da produção agrícola do interior. O porto de Cachoeira era a conexão que encurtava o caminho entre o sertão e a capital baiana. “Tudo aquilo que era produzido no sertão baiano, ervas, couro, farinha, tabaco e outros produtos, inclusive o ouro produzido nas Minas Gerais, eram trazidos por meio de tropeiros para Cachoeira e daqui seguiam em embarcações para o porto de Salvador. Aqui era uma zona de efervescência cultural. A própria configuração arquitetônica da cidade diz que era uma cidade rica”, explica o historiador Luiz Claudio Dias.

Tão rica que foi tombada pelo Patrimônio Histórico. Ganhou o título de Monumento Nacional, mas nem por isso a cidade conserva uma vida de fartura. Até metade do século 20, Cachoeira era uma das cidades mais prósperas do interior do Nordeste. Atraía comerciantes de todo o Brasil e barões da agroindústria daquela época. As ruas, de sobrados e casarões, foram construídas com o dinheiro da produção de açúcar e a mão de obra de negros escravizados. Aquela região do Recôncavo Baiano foi uma das pioneiras no Brasil na compra de negros africanos para trabalhos forçados. O engenho Vitória era um dos maiores da Bahia. O engenho se destacava na produção de açúcar até 1950. Hoje é um casarão em ruínas nas margens do Paraguaçu. Segundo o professor Fábio Batista, pesquisador da universidade federal, eram mais de 40 mil escravos nos engenhos da região.“O Recôncavo Baiano, sem dúvida, é o berço dessa forma de exploração do trabalho escravo", explica.

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E como eram tensas as relações com os patrões, o regime de trabalho era de poucos direitos e muito castigo. No mais violento, o escravo era amarrado num tronco conhecido como pelourinho. E do sofrimento nas senzalas surgiu uma confraria religiosa: a Irmandade da Boa Morte, uma devoção de quase 200 anos. Na Igreja Católica, mulheres rezam para Nossa Senhora, e nos terreiros homenageiam os orixás, os deuses do Candomblé. No tempo da escravidão, os negros eram proibidos de cultuar suas divindades africanas. Por isso, eles foram buscar nos santos católicos semelhanças com os orixás. E, assim, o sincretismo começou a se manifestar nos terreiros da Bahia.

E é na Igreja Católica que a Irmandade da Boa Morte faz uma das festas mais tradicionais do Candomblé. A procissão percorre as ruas de Cachoeira com a imagem de Nossa Senhora. É assim que todo ano as mulheres da Boa Morte agradecem a libertação dos escravos. Na frente do cortejo, o padre e as mães de santo de braços dados, dando exemplo de respeito às diferenças. Na terra de todos os santos, este é o espírito de católicos e seguidores do Candomblé. Seja nos templos ou nas águas da baía.

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