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Da Folha de S. Paulo: Orixás não deixam abrir terreiros na BA

Mesmo com pandemia, Prefeitura de Salvador havia autorizado retorno de atividades em templos e espaços religiosos.

29 de julho - 2020 às 13h26

André Uzêda / SALVADOR

Mesmo com a autorização da prefeitura para o retorno das atividades em templos religiosos, muitos terreiros de candomblé em Salvador escolheram continuar fechados durante a pandemia do coronavírus. Os argumentos vão desde preocupação com a saúde das principais lideranças religiosas (geralmente pessoas mais velhas) ao receio de perseguição por “falhas” no protocolo de reabertura e, em muitas casas, até o conselho direto dos orixás.

No Ilê Axé Opô Afonjá, fundado em 1910, foi justamente a voz de Xangô (orixá da Justiça) que prevaleceu entre os reais motivos. Mãe Ana comunicou que não há possibilidade de retomada das atividades neste momento. “Ela fez uma consulta direta através dos búzios e Xangô disse para não reabrir nada. Não é o momento ainda. Quando o aviso é do orixá não tem o que contestar. Tem que aceitar e pronto”, diz Ribamar Daniel, obá odofin (ministro de Xangô) e presidente da Sociedade Cruz Santa do Afonjá.

Entre os principais terreiros de Salvador, aos 53 anos, Mãe Ana é uma das ialorixás mais novas. Ela sucedeu Mãe Stella de Oxóssi, morta em dezembro de 2018. Quando uma liderança importante morre, a casa fica fechada por um ano (o ritual é chamado de axexê). Mãe Ana foi conduzida ao posto em dezembro de 2019 e, três meses depois, teve que fechar o terreiro por conta da pandemia. “A gente lamenta que isso tenha acontecido, mas era o mais certo a se fazer. Nossos rituais continuam, mas apenas com as pessoas que moram no terreiro e com todos de máscara”, diz Daniel.

O pedido de cautela feito por Xangô também se estendeu ao Ilê Axé Opô Aganju. Lá, a casa é regida por um homem – 60% dos terreiros da Grande Salvador são comandados por mulheres. Pai Balbino Daniel de Paula, o Obaràyí, foi obrigado a, pela primeira vez na história, cancelar todo calendário de festas que acontecem no terreiro desde 1972. “É uma tristeza ver o terreiro vazio. Mas é uma recomendação médica e também um pedido do orixá. Continuamos fazendo nossas oferendas, mas sem receber ninguém”, diz o babalorixá.

Aos 79 anos, ele prevê a reabertura das atividades apenas para o ano que vem. “Não adianta abrir o terreiro em agosto se o nosso ciclo de festas começa em junho. Nosso calendário já foi prejudicado.” O presidente da Associação Brasileira de Preservação da Cultura Afro-Ameríndia (AFA), Leonel Monteiro, explica que cada líder religioso é autônomo para decidir sobre a própria casa, não havendo uma decisão geral aplicada a todos. Atualmente, a entidade registra 1.738 terreiros cadastrados em Salvador (sendo 96% deles de candomblé e 4% de umbanda e caboclo).

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