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Escola em João Dourado é exemplo de abandono

Unidade já foi referência, hoje sofre com problemas sérios de infraestrutura. É possível aprender num lugar desses?

24 de novembro - 2015 às 09h31
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Reprodução Jornal 2 Pontos

A Escola Municipal Professora Ida Bastos, até pouco tempo, era tida como referência na rede municipal de ensino de João Dourado, uma das cidades mais importantes e ricas da Região de Irecê. A excelente infraestrutura e alto padrão de ensino fizeram com que a Prefeitura criasse o “selo” Educação IDA de Qualidade, o que orgulhosamente foi estampado na fachada do prédio e na farda dos mais de 700 alunos das turmas do Fundamental I e II. Dos tempos áureos, só resta lembrança: atualmente, a Escola Professora Ida Bastos se transformou numa ambiente insalubre, perigoso e inapropriado para o desenvolvimento intelectual do alunado.

No último dia 5, a reportagem do Jornal 2 Pontos visitou a unidade junto com a vereadora Rita de Cássia Amaral. Na entrada principal, salta aos olhos o muro sujo, o portão danificado e o nome desbotado na fachada. O “cartão de visita” é uma pequena amostra do que está por vir: no corredor principal, pode-se verificar paredes com rachaduras, teto danificado e com mofo (sinal evidente de infiltração), janelas com rejuntes comprometidos e vidros quebrados. Nas salas de aula, o cenário é ainda mais preocupante em função das infiltrações no forro, azulejos soltos, interruptores elétricos sem caixa de proteção e cadeiras, mesas e quadros danificados. “É possível aprender num lugar desses?”, questionou um(a) educador(a), que, temendo represálias, pediu para não ser identificado.

A pergunta retórica coloca “em xeque” um dos pilares do Ida Bastos: a qualidade do ensino. Mesmo com professores dedicados, mesmo com a atenção especial da direção e o comprometimento de toda comunidade escolar, como uma criança pode ter prazer em ir à escola? Como meninos e meninas de 7, 9, 10, 12 anos terão suas habilidades desenvolvidas neste tipo de ambiente? É possível formar cidadãos num espaço com essas características?

Cúmulo do absurdo – O que era ruim, ficou ainda pior

No dia da visita a merenda foi sopa, servida em copos plásticos. Mas, segundo testemunho da vereadora Rita, os alunos já tiveram que comer “pão seco e bolacha sem suco”. “Meu medo maior é que aconteça um desastre... A previsão é de chuva para os próximos dias e a estrutura do colégio está completamente comprometida”, completou.

Apesar dos inúmeros problemas, o pior foi reservado para o final. Entre a cantina e a quadra de esportes vem sendo improvisado uma espécie de depósito de cadeiras danificadas. O local é cheio de lixo e ferro retorcido, o que coloca em risco à segurança dos alunos. Perto da estrutura que suporta a caixa d’água, muitos fios elétricos e disjuntores estão ao alcance de qualquer um. Abaixo, ainda no mesmo ambiente, placas de cimento soltas e água suja – combinação que causa pânico em qualquer técnico em segurança.

Crônica de uma tragédia anunciada

De acordo com dados do Google Maps, serviço de pesquisa e visualização de mapas e imagens via satélite do Google, a Escola Municipal Ida Bastos é localizada na Av. Josebias Cardoso, nº 1 - Centro, a 800 metros da Secretaria Municipal de Educação, situada à Rua Enéas da Silva Dourado - também no Centro. Apesar da proximidade geográfica, o titular da pasta, Erik Machado, garante que não conhecia o atual estado de degradação do prédio. “Se você percorrer 90% dos municípios baianos, todos eles têm problemas de infraestrutura. Neste caso específico, muitas coisas são problemas de gestão, problemas de natureza administrativa. Para isso, a escola dispõe de recursos do PDDE [Programa Dinheiro Direto na Escola]. O que nos foi solicitado, por meio de ofício, foi uma reforma nos banheiros e a instalação de alambrados na quadra. Nada além disso... Acho que a ausência de diálogo tem causado muitos entraves”.

Na escola em questão existem apenas dois banheiros (um masculino e outro feminino) disponíveis para todos os alunos. As crianças reclamam de descargas entupidas, portas enferrujadas, ausência de assento, vazamentos nas pias, azulejos soltos e falta de material de higiene pessoal (papel higiênico e sabonete). Outra queixa recorrente é o gosto “estranho” do líquido que jorra do bebedouro. Indícios apurados pela reportagem apontam que a água que abastece o equipamento de uso coletivo vem direto da caixa por uma ligação externa, sem nenhum tipo de tratamento. “O sr. deixaria seus filhos estudarem lá, secretário”, indagou a vereadora. “Deixaria, sim”, respondeu o gestor, com certo constrangimento.

A última reforma geral promovida na Escola Municipal Ida Bastos foi em 2012. Mas, segundo Erik Machado, não há previsão de uma intervenção de grande porte. “Tudo depende do ajuste administrativo e da previsibilidade financeira”. Parafraseando o título do célebre livro lançado por Gabriel García Márquez em 1981, o temor é que essa seja a crônica de uma tragédia anunciada.

Matéria originalmente publicada na edição número 30 do  Jornal 2 Pontos:

 

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