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Médico justifica palavrão após fake news sobre vacina

Acabou a paciência! O saco encheu! #TamoJunto

28 de janeiro - 2021 às 11h42
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Uol / G1

É assim que o médico virologista Maurício Lacerda Nogueira, pesquisador e professor da Famerp (Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, no interior de São Paulo), resume o que o motivou a responder —de forma curta, direta e com um palavrão— uma mentira publicada no Facebook sobre a aplicação da vacina contra o coronavírus no Brasil. "Teu cu", escreveu o professor em resposta a uma afirmação de que duas pessoas teriam morrido após serem imunizadas com a CoronaVac —a informação é falsa. A reação de Nogueira acabou viralizando, e um meme que coloca a resposta do professor ao lado de seu extenso currículo lattes passou a circular nas redes sociais e no WhatsApp. Ao UOL, o pesquisador afirmou que sua manifestação não foi planejada, mas acabou representando o que muitas pessoas pensam e querem dizer em resposta ao negacionismo. 

"Acabou a paciência que nós temos em relação à negação da ciência, à negação da pandemia, e também à pandemia de fake news, que é pior ainda do que a pandemia [da covid-19] que estamos vivendo", diz o professor. Chefe do laboratório de virologia da Famerp, Nogueira é doutor em microbiologia e coordena os estudos de diferentes vacinas contra o coronavírus na cidade de São José do Rio Preto: entre elas, a da farmacêutica belga Janssen e a CoronaVac, desenvolvida pelo Instituto Butantan em parceria com o laboratório chinês Sinovac. Ele diz, no entanto, que sua intenção não foi fazer a defesa de uma vacina específica, mas sim da ciência.

Em tempos de pandemia, ele se divide diariamente entre os trabalhos no Hospital de Base de São José do Rio Preto, na faculdade de medicina e no laboratório de virologia. Sua indignação, afirma, vem da constatação de que o grau de negação da ciência chegou ao ponto em que seu currículo "não vale mais nada". "Então, no fim das contas, não adianta ter a minha qualificação toda. Eu tenho que falar mais alto? Pois é, falei mais alto", diz o pesquisador.

Apesar de se definir como alguém transparente "no que acho e no que falo", Nogueira diz que não pretende "sair por aí xingando todo mundo" de agora em diante. Ao mesmo tempo, ele reage com uma dose de bom humor, classificando a resposta que viralizou como a "obra mais citada" em sua vida. "Acho que a mensagem foi dada naquele momento. Vamos voltar às argumentações técnicas. O frustrante é que isso continua não valendo porque a liderança brasileira não vale. Temos um presidente da República que nega a ciência", afirma. O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tem dado declarações que vão contra as evidências científicas sobre a covid-19 desde a chegada da pandemia no Brasil. Apesar de diferentes entidades, como a OMS (Organização Mundial da Saúde), apontarem para a gravidade da doença, Bolsonaro afirmou no início do ano passado se tratar de uma "gripezinha". 

O presidente também é um dos defensores do uso de medicamentos como a cloroquina e a ivermectina como parte de um suposto tratamento precoce contra a covid-19. Não há comprovação científica de que esses remédios funcionem no tratamento da doença. Além disso, o presidente já questionou a eficácia da CoronaVac, que recentemente teve o uso emergencial aprovado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). "[A CoronaVac] é absolutamente segura e eficaz. Podemos controlar a pandemia e os casos mais graves, o que é o mais importante, com essa vacina", afirma Nogueira. 

Resposta veio "do fígado" 

O fatídico momento em que Nogueira se deparou com a mentira que decidiu responder no Facebook aconteceu quando o pesquisador abriu a rede social em busca de "alguma coisa para dar uma risada". "Nesse dia específico, eu estava discutindo questões de vacina", conta. A Famerp debatia a programação de uma possível campanha de imunização. No horário do almoço, Nogueira saiu para comer em um restaurante, sozinho.

"Enquanto eu esperava, abri o Facebook para passar o olho, ver se achava alguma coisa para dar uma risada. Então eu vejo aquela postagem. E ali foi uma resposta que não veio do cérebro, ela veio do fígado. Respondi e esqueci completamente, jamais imaginei que alguém ia perceber." O professor, que já fazia uso das redes sociais como plataforma para defender a valorização da ciência e do pesquisador no Brasil, diz que agora, com o nome ainda mais conhecido, continuará fazendo essa campanha. "Mas isso não é feito de forma pensada, é o que eu sou", afirma.

Ele defende, ainda, que as pessoas respondam de fato por aquilo que dizem nas redes. "O que me levou à resposta [da postagem] foi uma acusação de morte relacionada à vacina que é absolutamente mentirosa. O que aquela pessoa está fazendo é um crime contra a saúde pública. Alguém vai responsabilizá-la?".

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