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Mesmo sem recursos necessários, agricultores familiares plantam acreditando em boa safra

Chuva mansa e molhadeira em todos os municípios da região de Irecê. Daquelas que o sertanejo gosta e que atiça os agricultores que não resistem à inquietação de enterrar sementes na terra.

19 de novembro - 2014 às 13h16
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Cultura & Realidade

João Gonçalves

Por mais que a produtividade tenha se reduzido nos últimos anos, por mais que as condições climáticas tenham se tornado desfavoráveis à produção em regime de sequeiro, os agricultores não conseguem se conter diante da chuva, esta que retroalimenta não apenas os aquíferos superficiais e subterrâneos, mas, sobretudo a esperança e os sonhos dos sertanejos do campo em rever a fartura brotar dos seus roçados. Na região predomina a agricultura familiar em pequenas propriedades rurais, com média de 10 hectares por família. Durante os áureos que concedeu a Irecê o título de “Capital do Feijão”, com estímulo governamental, foram desmatados 524 mil hectares de área agricultável, onde eram plantados feijão e em alguns casos, consorciado com milho e mamona.

No período de 1960 a 1990, com seu ápice entre as décadas de 70 e 80, a agricultura era o principal sustentáculo econômico do território. De acordo com ambientalistas, a adoção de tecnologias pautadas por patrulhas mecanizadas, desmatamento, queimadas, sementes modificadas, uso de veneno (defensivos ou agrotóxicos) e adubo químico de modo extensivo e intensivo, reduziram a capacidade hídrica e dos solos e a agricultura então perdeu o seu apogeu na década de 90 e hoje Irecê vive do turismo de negócio, com destaque para o comércio, prestação de serviços e eventos. Apesar de substituída como principal importância econômica, a agricultura e pecuária ainda ocupam lugar de destaque e não perdem o seu charme e paixão das famílias tradicionais. Com a redução das políticas de financiamento e a ampliação do endividamento agrícola, as famílias fazem de tudo para plantar, quando a terra está molhada.

Seu Francisco Gaspar dos Anjos, 68 anos, agricultor familiar de Aguada Nova, município de Lapão-BA, vendeu ontem mesmo um jogo de sofá e o botijão de gás para garantir as sementes de milho, feijão catador e mamona, e duas diárias de trabalhador rural para plantar as suas 14 tarefas de terra. “Se Deus quiser este ano vai ser bom, com o milho garanto um novo sofá e um novo botijão e ainda sobra alguma coisa para as galinhas e para comer. Com a mamona, a gente vai fazendo a feirinha durante o ano. O feijão vai alimentando a família”, planeja o pai de família e avô, com as faces demonstrando emoção em ver a chuva molhando a sua roça e a esperança da agricultura reforçar os recursos oriundos da aposentadoria.

Na comunidade de Baixão de Zé Preto, a família de dona Marlene Miguel, 63 anos, já pegou o caminho da roça e plantou milho e sorgo. “Este ano será de fartura. Tenho fé”, disse a líder da comunidade católica local. No mesmo povoado, mora o agricultor Francisco José de 59 anos, o “Sula”, na sua carroça de burro aparentemente indomável, ele está “esperando o sol abrir uns dois diazinhos para plantar o meu milho”.

APOIO GOVERNAMENTAL 

A exemplo do ano passado, o Governo do Estado não está distribuindo sementes para todos os pequenos agricultores familiares, como ocorria em alguns anos atrás, resumiu-se apenas às comunidades quilombolas, segundo informou preposto do escritório regional da EBDA – Empresa Baiana de Desenvolvimento Agropecuário, responsável pela distribuição de sementes como feijão e milho, e também pela a assistência técnica demandada pelas famílias agricultoras, uma das premissas da empresa. De acordo com registros da EBDA, as precipitações pluviométricas em todos os municípios da região, nos últimos dias, entre 10 e 18, variam entre 43mm na sede de Xique-Xique a 221mm, em Ibipeba, podendo estes índices serem maiores, quando anotadas as precipitações da zona rural.

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