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A arte da ausência dos vereadores de Salvador

Câmara Municipal de Salvador – Foto: Antonio Queiros/Arquivo CMS

Os caros elétricos da BYD x as manivelas do governo

Credenciamento para participar da inauguração da BYD com a presença de Lula – Foto: Jesus Souza/Notícias da Bahia

Em meio ao frenesi do desenvolvimento tecnológico na inauguração da BYD, o credenciamento no Brasil permanece uma relíquia do caos. Enquanto o país exibe fábricas de veículos elétricos, a organização de eventos ainda parece presa à idade da pedra lascada. É curioso que tantas missões ao exterior, em busca das mais modernas tecnologias, não tenham importado um simples método para evitar que profissionais virem uma manada em disputa por crachás. Uma verdadeira lição de “eficiência” à brasileira.

“Bendito seja o povão”

Charge de Marilia Marz

Que admirável é a seletividade da segurança pública brasileira. Para o cidadão comum, a proteção se desfaz em menos de 24h após o termino das fotos dos governantes nos seus atos. Já as dos políticos, são resguardados com um aparato digno do Império Galáctico. Enquanto isso, o povo fica com o “lado da força” que significa enfrentar o caos sozinho. É uma ironia cósmica: a segurança de verdade parece ser um privilégio reservado para poucos, não um direito para todos. A liberdade de manifestar contra este descaso, portanto, acaba quando encontra a “liberdade” de reprimir.

A hierarquia midiática do sofrimento

O recente cessar-fogo entre Israel e Hamas escancara novamente a lógica perversa que rege a cobertura midiática do conflito: a criação de uma hierarquia do sofrimento. Enquanto o retorno de 48 reféns israelenses é tratado como um evento emocional global, com amplo espaço para o drama individual, a tragédia palestina – com dezenas de milhares de mortos e um retorno a escombros – é reduzida a um mero pano de fundo estatístico.

A hierarquia midiática do sofrimento II

Esta assimetria narrativa não é ingênua. Ela normaliza a desproporção e invisibiliza a escala real da catástrofe humanitária. A premissa de que “toda vida é importante” soa vazia quando a imprensa, ao equiparar a dor de forma tão desigual, atua como um braço ideológico que, tal qual a polícia prioriza a proteção de um “primo rico” geopolítico e reprime a voz do “primo pobre”, condenado a ser menos humano em sua própria tragédia. A verdadeira desonra está em não nomear este desequilíbrio.

O balcão de negócios do sofrimento alheio

A cobertura midiática das periferias brasileiras consagrou uma hierarquia perversa do luto. O sangue negro e pobre das favelas é commoditizado, transformado em espetáculo de ibope sob a justificativa do “jornalismo policial”. As tragédias são empacotadas em chamadas sensacionalistas e a dor real das comunidades, reduzida a um pano de fundo para a audiência.

Charges de Jean Galvão

O balcão de negócios do sofrimento alheio II

Esta exploração narrativa, no entanto, revela seu duplo padrão ao tratar a elite. Quando a notícia adentra os bairros nobres, o mesmo meio de comunicação adota um tom reverente, de excelência e elegância dignos de uma recepção real. A privacidade e a dignidade dos abastados são sagradas, enquanto a vida nas favelas é tratada como um drama aberto ao público. A desonra do chamado “jornalismo” está em normalizar essa apartheid de humanidade, onde o sofrimento de alguns vira espetáculo, e o de outros, um assunto discreto. E não é de doação ética que esses programas precisam. Sabem como é mas não ligam para isso. Para o povo, talvez um pix e uma cesta básica acalmem vossos corações. Veremos até quando funcionará este modus operandi.

A arte da ausência dos vereadores de Salvador

Enquanto a Câmara Municipal de Salvador dedica míseros três dias para debater os “interesses do povo”, a base do prefeito Bruno Reis parece ter entendido o recado ao pé da letra: decidiram nem comparecer. Em uma demonstração magistral de desdém, transformaram o plenário em um teatro de ausências. O presidente Carlos Muniz, nem mesmo presente na cidade, protagoniza o milagre da multiplicação presencial, registrando-se como presente no painel. Enquanto isso, a Salvador real – campeã em homicídios de jovens, com o pior PIB per capita e uma crise social visível a olho nu – clama por soluções. O trabalho legislativo, essencial para enfrentar esses problemas, foi substituído por um silêncio eloquente. Parabéns, vereadores, por transformarem a Casa do Povo em um monumento à negligência. A cidade, de fato, “anda bombando” – mas de problemas ignorados pelo legislativo.

A ressonância moral seletiva: um contraste de Éticas

Enquanto um presidente dos EUA foi impeachmado por um caso extraconjugal com uma estagiária e o ministro da Agricultura do Japão renunciou após ter feito uma piada sobre o preço do arroz, o Brasil cultiva uma sofisticada resiliência ética. Nestas paragens, escândalos que seriam fatais em outras nações, aqui são meros contratempos na trajetória pública. Enquanto nações ditas sérias protegem suas instituições com renúncias imediatas, nossa genialidade política transforma o cargo em um bunker jurídico. A barreira para o afastamento não são as gravidades dos fatos. O cargo público se converte em um escudo processual. Assim, observamos um paradoxo global: onde outras nações preservam a instituição, o Brasil preserva o político, muitas vezes, às custas da instituição. A ética é negociável e a culpa, um detalhe cerimonial. Assim é, nos quatro cantos do Brasil.

A Confraria do Notícias da Bahia busca através da Coluna etc&tal trazer reflexões sobre temas e acontecimentos importantes para nossa sociedade. A fofoca política nos interessa mas não é nosso principal objetivo.

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