Na cidade de Guanambi, situada na região sudoeste da Bahia, a 675 km de Salvador, o sol castiga sem piedade. Neste mês de março, o município figurou entre os mais secos do país, registrando a menor umidade relativa do ar entre as cidades brasileiras com estações ativas do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), chegando a 14%. Mesmo diante do calor intenso e da baixa umidade, a cidade tem intensificado o corte de árvores, tornando o ambiente ainda mais abrasador.
Nos últimos dias, a prefeitura derrubou três árvores com décadas de história no centro da cidade. A decisão unilateral gerou indignação entre os moradores, que sentem na pele os efeitos da redução da cobertura arbórea. “A retirada de árvores, somada à presença do asfalto, do concreto e de outros materiais que absorvem e retêm calor, provoca temperaturas mais altas e o aumento das ilhas de calor em diversos pontos do município”, explicou a engenheira florestal e professora da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb), Drª Rita de Cássia.
Um documento aponta que o senhor Santino Antônio dos Santos Júnior solicitou uma “poda educativa” das árvores localizadas na Rua Eurico Dutra, nº 57, permitindo a remoção de no máximo 30% da copa. No entanto, ocorreu o inesperado: a eliminação completa das árvores, que não apresentavam risco à população. De acordo com as normas legais, a remoção de árvores em locais públicos só pode ocorrer em casos específicos, como risco comprovado de queda, morte da planta ou necessidade de manutenção, mediante laudo técnico.
A preservação das árvores não é apenas uma questão estética, mas também de saúde pública e bem-estar. “Além de melhorarem a saúde mental e física da população, as árvores absorvem a radiação solar, produzem sombra, liberam vapor d’água na atmosfera e ajudam a reduzir a temperatura, tornando o ambiente urbano mais fresco e úmido”, destacou Drª Rita de Cássia.
Em vez de reduzir a vegetação, a gestão municipal deveria investir no plantio e na manutenção de áreas verdes, garantindo um ambiente mais equilibrado e suportável para a população. “A presença de árvores nas cidades, além de mitigar os efeitos das ondas de calor, reduz a poluição, intercepta as águas da chuva, diminui ruídos e fornece áreas de lazer”, pontuou a professora.
A equipe de reportagem tentou contato com a Secretaria de Meio Ambiente pelos canais oficiais – telefone (77) 3451-8763 e e-mail [email protected] , mas não obteve resposta. Também buscou posicionamento pelas redes sociais da secretaria e do secretário Carlos Jackson Loló, mas, até o fechamento desta matéria, não houve retorno. O site permanece aberto para manifestações da prefeitura.