Metade dos Estados deverá ser comandada por vice-governadores a partir de 2026. A um ano do prazo de desincompatibilização dos cargos, em abril do ano que vem, 13 governadores já sinalizaram interesse em disputar o próximo pleito, segundo levantamento realizado pelo Estadão.
Entre os 27 chefes do Executivo estadual, 18 não poderão disputar a reeleição, uma vez que já estão em seu segundo mandato. Desses, ao menos 13 já demonstraram vontade de se lançar a cargos no Senado Federal ou na Presidência da República.
Se decidirem de fato concorrer, eles deverão se afastar dos cargos até abril do próximo ano, cumprindo o prazo legal, que exige o afastamento de governadores ao menos seis meses antes da eleição.
Caso os vice-governadores assumam os cargos, o MDB poderá se tornar a sigla com maior número de Estados sob sua liderança. Com até seis governos sob seu comando, o partido ampliaria sua presença nacional e ofereceria palanques a aliados nas eleições.
O atual governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), afirmou durante evento no município de Brasil Novo que deixará o governo estadual no próximo ano caso “Deus permita, e o povo do Pará, outros horizontes”.
O emedebista é cotado para disputar a vaga hoje ocupada por seu pai, Jader Barbalho (MDB), no Senado, mas também já teve o nome sugerido para compor a chapa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva como vice. Barbalho daria lugar à vice-governadora Hana Ghassan (MDB), mantendo a gestão estadual nas mãos do partido.
Outro Estado que poderia ser comandado pela sigla é o Rio Grande do Sul, cujo governador, Eduardo Leite (PSDB), afirmou estar disposto a liderar uma candidatura à Presidência da República.
Em entrevista ao programa Canal Livre, divulgado pela Band, Leite também sinalizou uma possível mudança de partido ao dizer que buscará unidade a seu projeto “para onde for ou permanecer”, em meio aos rumores sobre uma filiação ao PSD. A saída dele abriria espaço para o vice-governador, Gabriel Souza (MDB), assumir o Executivo estadual até a eleição.
Quem também mira o Palácio do Planalto é o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), que lançou sua pré-candidatura em abril, durante evento em Salvador (BA).
A saída de Caiado também permitiria que outro integrante do MDB assumisse o cargo, com o vice Darci Piana herdando o governo. Caiado se junta aos governadores do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), e de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), também cogitados como candidatos à Presidência.
O presidente do Novo, Eduardo Ribeiro, lançou o nome de Romeu Zema como possível candidato do partido à Presidência caso o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) permaneça inelegível. Em evento do agronegócio realizado em Uberaba (MG), o governador também declarou apoio ao seu vice, Mateus Simões (Novo), como sucessor em 2026.
Ratinho Júnior é citado como uma alternativa pelo presidente do PSD, Gilberto Kassab. Para o representante da sigla, o governador é um “candidato natural” do partido, que avalia como positivo ter um nome próprio na disputa pelo Palácio do Planalto.
Maior parte dos governadores mira o Senado
Outros governadores, no entanto, deverão deixar o cargo para disputar vagas no Senado, como é o caso do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), que condicionou sua candidatura a uma boa posição nas pesquisas. Ao Estadão, o governador confirmou que, diante dos resultados atuais, tem a pretensão de concorrer, e disse ainda que apoiará a vice-governadora, Celina Leão (PP), para sucedê-lo.
O governador aparece com 36,9% das intenções de voto na pesquisa estimulada, segundo o último levantamento divulgado pelo Instituto Paraná Pesquisas, atrás apenas da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.
O governador de Roraima, Antônio Denarium (PP), também já anunciou intenção de disputar o Senado, em entrevista ao programa Agenda da Semana, da Folha FM, ainda no último ano. Ele citou a boa relação com o Republicanos, que poderia apoiá-lo ao lado do senador Mecias de Jesus (Republicanos). A sigla, presidida por Marcos Pereira, no entanto, recusou integrar uma federação com PP e União Brasil.
À frente do governo do Acre, o progressista Gladson Cameli, afirmou não “descartar possibilidades”. Segundo ele, uma candidatura “não pode ser resultado apenas de uma vontade pessoal, mas de um desejo da maioria”.
Em alta
Ao Estadão, o governador disse que existe em seu partido uma corrente que defende seu nome para o Senado e que quer “estar presente na construção dessa nova força política no meu Estado e no Senado Federal”.
Cameli chegou a ser elogiado pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil), durante sessão recente. Alcolumbre o chamou de “eterno senador” e relembrou o período em que atuaram juntos na Câmara dos Deputados e no Senado.
Já estão confirmados na disputa pelo Legislativo os governadores do Espírito Santo, Renato Csagrande (PSB), e da Paraíba, João Azevedo (PSB). Segundo o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, ambos são “prioritários” da legenda como candidatos ao Senado.
Casagrande, porém, afirmou que só tomará uma decisão no próximo ano, pois ainda precisa “organizar sua sucessão”. Seu vice é Ricardo Ferraço (PSDB). Já Azevedo disse que disputar o Senado é um “caminho natural”, agradeceu Siqueira pela defesa de seu nome, mas ressaltou que o assunto ainda será discutido dentro do partido e com outras siglas aliadas.
Pelo PSB, o governador do Maranhão, Carlos Brandão, também é cotado pelo presidente da sigla.
Outro nome cogitado para o Senado é o da governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT), que recebeu apoio do presidente Lula caso entre na disputa.
“Embora ainda seja cedo para falar das eleições, sobre as formações das chapas, ela sabe que poderá continuar contando com o apoio que hoje já recebe na condição de companheira e de governadora”, disse o petista em entrevista ao jornal Agora RN.
Ao Estadão, Fátima afirmou que sempre esteve “disponível para servir” ao Estado e ao País, que se sente “honrada e ainda mais estimulada” com o apoio de Lula, e que aceitaria se candidatar dependendo da “avaliação da conjuntura local e nacional”.
Nos bastidores, no entanto, sua candidatura é dada como certa diante do bom desempenho nas pesquisas. Fátima aparece em terceiro lugar com 23,4% dos votos, segundo a Paraná Pesquisas, atrás do ex-prefeito de Natal, Álvaro Dias (Republicanos), 31,8%, e do senador Styvenson Valentim (PSDB), 45,3%.
No Rio de Janeiro, o governador Cláudio Castro (PL) também admitiu que uma candidatura ao Senado “é uma possibilidade”, a depender da conjuntura política. Em entrevista ao portal Metrópoles, Castro afirmou, no entanto, que poderia terminar o mandato se fosse preciso para ajudar seu grupo político.
Por Adriana Victorino / Estadão