Por Victor Costa e Tatiana Furtado
Um toque, um giro e um chute certeiro. Foram os três movimentos de um drible e de um gol que fizeram o mundo e a mídia, mais uma vez, aplaudir a genialidade de Neymar, domingo, na vitória do Barcelona sobre o Villarreal. Foi com esse moral alto que o camisa 10 da seleção desembarcou ontem em São Paulo para se juntar ao time de Dunga. No dia anterior, ele não teve dúvidas sobre o gol: — Sei o que fiz. Pensei na jogada antes — disse. A ciência se une a Neymar e confirma que o golaço surge da combinação entre o raciocínio rápido e uma habilidade fora de série. O que alguns especialistas dos movimentos do esporte discordam é que tenha sido plenamente consciente.
— O que Neymar fez neste gol foi mais neurológico do que fisiológico. Quando a bola chegou, ele já tinha um repertório de jogadas na cabeça. Mas escolheu aquela pelo seu inconsciente, automatismo... Não foi totalmente pensado — disse Fábio Ganime, preparador físico do Vasco e especialista em motricidade humana, que explicou que esse tipo de jogada não é treinada e jamais vai existir outra igual se for analisada o tempo e velocidade da bola, posição em campo etc. — Para executá-la não basta a repetição. É preciso ter uma genética e que esta seja desenvolvida junto com o condicionamento físico e técnico.
A capacidade de marcar um gol com tamanha facilidade é fruto da inteligência tática somada à capacidade física de Neymar, que, para o coordenador do Laboratório de Biomecânica da Escola de Educação Física da USP, Júlio Serrão, ainda não atingiu o auge: — Ele tem um repertório motor muito vasto, que antecipa as jogadas. Sabe o que vai acontecer e seleciona a melhor jogada. Ele mostra uma visão estratégica no lance, sabia onde a bola ia cair. Junto a isso, o condicionamento físico atual dele permite que o lance se transforme em gol. Ali, ele precisou de potência e mobilidade articular para que a bola ganhasse aquela amplitude e força para chegar ao gol. É um jogador muito completo, até mais que o Messi, que pode ser mais habilidoso.
A biomecânica do movimento necessitaria de uma análise mais profunda, mas João Gustavo Claudino, mestre em Ciências do Esporte da UFMG, comenta o lance ,que não para de ser repetido nas TVs: — A jogada envolveu uma rotação sobre o eixo do corpo do próprio jogador. Além disso, ele aplicou na bola uma rotação de forma a permitir um posicionamento futuro favorável para a finalização. Mas o que se pode dizer é que o gol foi resultado de elevado nível técnico, inteligência e criatividade. Seja como for, em preparação para enfrentar a Argentina, é bom saber que Neymar é craque até quando não se dá conta.
INFOGRÁFICO: A obra-prima de um craque!