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Saiba como a CBF vendeu a seleção brasileira

Documentos comprovam favorecimento nas convocações de amistosos do Brasil e enriquecimento ilícito de cartolas.

17 de maio - 2015 às 10h21
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Estadão

De acordo com documentos divulgados pelo jornal Estado de São Paulo neste sábado, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) teria feito contrato secreto, em que aceita exigências incomuns de empresários para a Seleção Brasileira. Os acordos estabelecem que a lista de jogadores convocados precisa atender a critérios estabelecidos pelos parceiros comerciais e qualquer substituição precisa ser realizada em "mútuo acordo". A questão seria a seguinte: "Cada jogador que substituir um 'titular' precisa ter o mesmo 'valor de marketing' do substituído". O material a que a publicação teve acesso revela como a CBF vendeu o time nacional em troca de milhões de dólares em comissões a agentes e cartolas. A mina de ouro que a CBF possui, chamada de Seleção, é usada como bem entendem seus mandatários.

Desde 2006, a entidade mantém contrato com a companhia ISE para a realização dos amistosos do selecionado. O problema é que a esta é uma empresa de fachada. O acordo foi mantido em sigilo por quase dez anos, mas documentos revelam que a ISE não possui escritório e tampouco funcionários. Além disso, tem sede nas Ilhas Cayman e é uma subsidiária do grupo Dallah Al Baraka, um dos maiores conglomerados do Oriente Médio, com 38 mil funcionários pelo mundo. 

Ricardo Teixeira renovou contrato

O ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira, em 2011, renovou o referido contrato por dez anos. Entre 2006 e 2012, a ISE sublicenciou a Kentaro como responsável. Em 2012, o contrato passou para as mãos da Pitch International, depois de uma negociação com a ISE e a CBF. Desde 2011, no acordo oficializado pelo ex-mandatário, é claro o esquema para explorar a marca da seleção, de qualquer forma possível. "A CBF garantirá e assegurará que os jogadores do Time A que estão jogando nas competições oficiais participarão em qualquer e toda partida", diz o artigo 9.1 do contrato. "Se acaso os jogadores de qualquer partida não são os do Time A, a taxa de comparecimento prevista nesse acordo será reduzida em 50%", estipula o documento. Por jogo, a CBF lucra US$ 1,05 milhão (R$ 3,14 milhões).

Em caso de corte, por contusão, por exemplo, a CBF precisa provar com um certificado médico aos empresários da ISE que o atleta está macucado: "Qualquer alteração à lista será comunicada por escrito à ISE e confirmada por mútuo acordo. Nesse caso, a CBF fará o possível para substituir com novos jogadores de nível similar, com relação a valor de marketing, habilidades técnicas, reputação''. O contrato secreto ainda prevê que a preparação da Seleção para as Copas de 2018 e 2022 também será de exploração exclusiva da ISE. Por fim, o documento atesta: "Todos os termos e condições deste acordo serão tratados pelas partes como informações confidenciais e nenhuma das partes os divulgará".


Del Nero e Marin sabiam e tentaram negociar novo contrato

E-mails confidenciais obtidos pela mesma publicação revelam que Marin e Del Nero, o atual presidente da CBF, estavam negociando um novo contrato, com valores superiores ao assinado por Teixeira. O lucro seria a única preoupação dos cartolas da CBF. Porém, Teixeira, no dia 19 de maio de 2012, entrou no negócio, viajou até a Alemanha para um encontro com Marin e Del Nero. Ambos estavam em Munique para a final da Champions League vencida pelo Chelsea. Após muitas negociações, o novo acordo, com a empresa Kentaro, foi deixado de lado. O esquema montado por Teixeira foi mantido, até 2022. O CEO da Kentaro, Phillip Grothe, alguns dias depois enviou e-mail em que dizia: "O acordo foi assinado no dia 15 de agosto. Vinte e quatro horas antes, Marin e Marco Polo nunca tinham ouvido falar de Pitch. Nós todos sabemos que a Pitch é apenas a testa de ferro da Al Jazeera. Eu acho que eles pagaram 50 milhões de dólares à ISE e aos outros pela assinatura - totalmente loucos".

Contato com funcionário "fantasma"

O atual presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, falou recentemente sobre o contrato, ao Estadão: “O contrato, na medida do possível, a gente faz para cumprir. Nós chegamos já tinha esse contrato, temos de cumprir. Eu não chego a dizer que esse contrato é tão ruim. Porque quando a gente jogava aqui no Brasil não chegava a tirar esse valor (US$ 1,05 milhão). Hoje quanto é isso? R$ 3 milhões é pouco? Se analisar, hoje o contrato é bom". 

“Há jogos que dão prejuízos. O amistoso em Porto Alegre (contra Honduras, em 10 de junho) não vai ter lucro. Vai dar o quê? R$ 4 milhões? Fora do Brasil os amistosos que rendem bem é o momento de lucro deles. Eles perdem dinheiro, ganham dinheiro. Perdem e ganham. Mas a CBF não corre risco nenhum", acrescentou ele. Del Nero afirmou que os contratos com a ISE foram feitos anteriormente e que não conhece os integrantes da empresa. Revelou ter sido apresentado a um executivo, mas que seu contato era com um funcionário, com quem tratava sobre “uma série de fatores’’. “Mas fui informado que esse funcionário está saindo da empresa", concluiu ele.
 

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