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Do Bairro da Paz para DF: jornalista é nomeado como consultor da Secom para fortalecer comunicação popular

Por Morgana Montalvão – Foto Divulgação

Paulo de Almeida Filho, recifense de 43 anos, encontrou no jornalismo comunitário não apenas uma profissão, mas um propósito em dar voz a territórios historicamente silenciados. Em dezembro de 2024, o jornalista foi selecionado como um dos 15 consultores da Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom-PR), com a missão de ajudar na criação de dois importantes documentos: o Manual de Boas Práticas em Comunicação Popular e Periférica e o Guia de Sustentabilidade e Promoção da Diversidade do Jornalismo Periférico e Independente.

A iniciativa tem ainda consultores de outros 14 estados (AM, CE, DF, GO, MA, MT, MG, PA, PR, PE, RN, RS, RJ e SP) e conta com a cooperação da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e a Agência Brasileira de Cooperação (ABC). O espaço faz parte do projeto “Promovendo o Acesso à Informação, o Exercício de Direitos, o Combate à Desinformação e a Defesa da Democracia”.

A ação vai atuar em diferentes dimensões, entre elas a ampliação da educação midiática, a proteção de direitos no ambiente digital, o fortalecimento da sustentabilidade do jornalismo de interesse público, a promoção da pluralidade e diversidade de vozes, a defesa e promoção da liberdade de expressão, além do enfrentamento à desinformação e aos discursos de ódio no ambiente digital.

Paulo, um “otimista realista”, como se autodenomina, escolheu Salvador para viver e mora no Bairro da Paz desde a década de 90. Ele credita à localidade, um importante pilar para a sua formação humana, social e profissional, onde moldou uma visão crítica a partir das experiências de uma periferia que pulsa humanidade e desafios. 

“É onde tive as primeiras oportunidades de ampliar minha visão crítica, a partir das experiências de um cidadão oriundo da periferia. Sempre estudei em escola pública, tendo a primeira experiência em comunicação comunitária em 1999, na Rádio Comunitária Avançar, do Bairro da Paz. Fiz a graduação em Comunicação Social/Jornalismo, através de programa de políticas públicas, especialização e mestrado na Uneb. Sou defensor do ensino público e pela valorização dos profissionais da educação em todas as esferas. Além disso, sou militante pela democratização da comunicação, como um direito fundamental para a liberdade de opinião”, disse.

O jornalista é mestre em Gestão da Educação, Tecnologias e Redes Sociais, pela Universidade do Estado da Bahia (Uneb), pesquisador do Centro de Referência e Desenvolvimento em Humanidades (CRDH) e membro do Grupo de Pesquisa em Tecnologias, Inovações Pedagógicas e Mobilização Social pela Educação (TIPEMSE), da mesma instituição, professor de Pós Graduação em Comunicação e Diversidade da Escola Baiana de Comunicação e assessor da Rede das Mídias Comunitárias de Salvador (Rede Midicom).

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Agência de Notícias das Favelas 

O envolvimento de Paulo de Almeida com a Agência de Notícias das Favelas (ANF) marcou um divisor de águas em sua trajetória. Ele é coordenador da instituição na Bahia. A entidade fundada pelo jornalista André Fernandes em 2001, surgiu para preencher uma lacuna na cobertura jornalística, oferecendo informações sobre a realidade das comunidades cariocas. Reconhecida mundialmente pela Reuters, a ANF tornou-se uma ONG em 2005, ampliando sua missão de democratizar a informação e dar voz aos moradores das comunidades.

O interesse de Paulo pelo jornalismo comunitário começou antes de ingressar na faculdade de comunicação, quando pesquisou a iniciativa da ANF. Essa pesquisa inicial o motivou a buscar exemplos de ações similares realizadas no Bairro da Paz. Ao ingressar na graduação, Paulo pôde aprofundar e expandir sua pesquisa, consolidando o conhecimento sobre o tema.

Em 2016, ele conheceu André Fernandes e, desde então, foi instituída uma parceria para colocar em prática a formação de comunicadores populares utilizando as referências da ANF. A sede da instituição na Região Nordeste está instalada no Bairro da Paz.

Desde que entrou na instituição, Almeida já realizou diversos frutos, como a formação de comunicadores populares e a criação de núcleos de notícias em diversas localidades.

 “Já realizamos algumas qualificações em Salvador, Recife e conseguimos criar núcleos de colaboradores para produção de notícias em todos os estados do Nordeste. São desenvolvidos também, diversas atividades ligadas ao empreendedorismo, orientação jurídica, campanhas sociais e atividades constantes na defesa da democracia através da comunicação comunitária”, disse ele, creditando ao conhecimento aprendido com o jornalismo comunitário, uma respeitosa ferramenta de representatividade e valorização social.

“Uma das principais características do jornalismo comunitário é a representatividade e a contribuição da valorização social e humana das pessoas que moram nas periferias, se tornando uma fonte e referência local.  A partir dessa identidade, o combate à desinformação se torna um exercício constante, funcionando numa contranarrativa, buscando eliminar o estereótipo negativo, que é alimentado pela maioria das mídias hegemônicas, o que provoca várias violações dos direitos humanos”, complementa.

Em sua opinião, a prática do jornalismo comunitário tem sido menos dificultosa com o passar do tempo devido ao advento de várias ferramentas tecnológicas que facilitam e agregam o fazer jornalístico. No entanto, essa vertente ainda sofre com a falta de valorização e investimento financeiro, inclusive de verbas públicas.

“A falta de estrutura em muitas experiências ainda reforça uma marginalização por parte da sociedade, porém, a resiliência dos profissionais da comunicação comunitária mostra ao longo da história,  que este tipo de jornalismo deixou de ser uma mera alternativa, se tornando um instrumento de democratização e mobilização”, enfatiza o profissional.

Senso de pertencimento e democratização da informação

Embora não exista uma receita ou manual para mobilizar os moradores a participarem da produção de notícias em suas comunidades, pois cada território tem características próprias, Paulo frisa que é importante utilizar estratégias como enquetes, rodas de conversa e canais de interação com os veículos de comunicação.

“Isso mostra ao público em geral que a participação popular, seja para fazer denúncias ou mostrar pautas positivas, são alguns dos fatores importantes para a valorização do jornalismo comunitário para a comunidade”, disse.

Segundo ele, essa modalidade de jornalismo pode contribuir para o fortalecimento do senso de pertencimento e identidade cultural nas comunidades ao respeitar a individualidade e o espírito coletivo. Ao abordar temas relevantes e valorizar as vozes locais, o jornalismo comunitário ajuda a construir uma narrativa mais positiva e representativa das periferias, auxiliando para o entendimento da consciência crítica dos seus moradores. Dessa maneira, os territórios periféricos tendem a sair mais fortalecidos e empoderados dos seus direitos.

O impacto do jornalismo comunitário vai além da comunicação. Ele influencia diretamente as políticas públicas ao expor as demandas reais das comunidades. É uma ferramenta de mobilização social que pressiona por serviços mais justos e eficazes. Em tempos de crises sociais ou ambientais, sua função se torna ainda mais evidente. Atuando como mediador e trazendo perspectivas alternativas, a comunicação comunitária direciona o olhar para as causas dos problemas, e não apenas para suas consequências.

“É uma ferramenta de mobilização social e um instrumento de cobrança. Exercendo esse papel social, ele contribui de forma significativa na aplicação e efetivação de políticas públicas, explicou.

Ao longo da vasta experiência na área de comunicação voltada para as comunidades, Paulo de Almeida percebeu que, além de o jornalismo comunitário poder influenciar significativamente as políticas públicas e a percepção dos governantes sobre as demandas de pessoas carentes, essa vertente também pode contribuir para amplificar e fortalecer democratização da informação ao alargar o alcance e a visibilidade das comunidades. Ele ressalta que é preciso combater o monopólio da mídia hegemônica, concedendo mais espaço para veículos com focos para comunidades periféricas.

“Algumas empresas de comunicação tentam criar pontes com o jornalismo comunitário, o que contribui de forma importante na proposta de democratização, mas em muitos casos, os empresários e investidores, não estão preocupados com essa ideia, querem o monopólio e enxergam o jornalismo comunitário como concorrente. Isso é uma mera ilusão. Em termos de representatividade, a comunicação comunitária cumpre seu papel de forma exitosa, principalmente criando oportunidades para as pessoas serem comunicadores de suas próprias narrativas”.

Veja o vídeo de Paulo de Almeida Filho explicando o significa para ele compor o conselho da Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom-PR):

 

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