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A maior vítima foi o brasileiro, a pátria de chuteiras

Confira as opiniões de Walter de Mattos Jr, editor e fundador do Grupo LANCE, sobre o vexame da Seleção Brasileira.

09 de julho - 2014 às 09h19
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LANCEPRESS!

Achava, como muitos, que o Brasil não tinha time para ganhar da Alemanha, mas nunca imaginei algo como vimos e sentimos ontem. A maior humilhação da história do futebol brasileiro e da Seleção, logo em casa, na Copa organizada para botarmos a sexta estrela na camisa. Foi um time de talento e de organização o que nos massacrou. Do nosso lado, havia somente um grupo de atletas, dedicados, que suaram a camisa, mas que não tinham nem esquema e nem talento para ao menos fazer um jogo à altura das expectativas do povo brasileiro. Este, aliás, é a grande vítima de tudo. O povo que, pela TV, acompanha sua “pátria de chuteiras” (do genial Nelson Rodrigues) na esperança de se sentir maior a cada gol e a cada vitória. Ontem, o Brasil sofreu muito!

IDENTIDADE NACIONAL

O Brasil fez história no futebol sendo o primeiro tri, levando a Jules Rimet para casa, e depois, sucessivamente, foi o primeiro tetra e o primeiro pentacampeão do mundo. Nossa identidade moderna foi fundada e decantada mundo afora associada à do país do futebol. Nos livramos do “complexo de vira latas” (Nelson ajuda de novo) em 58, momento imortalizado nas lágrimas de Pelé nos ombros de Gilmar e na arte de Garrincha, uma dupla que, junta, nunca perdeu pela Seleção. Ganhamos as três primeiras Copas jogando o que se passou a chamar de futebol-arte. Depois, perdemos a de 82, praticando um futebol que encantou o mundo, e ganhamos a Copa de 94 jogando um futebol que não era o nosso. Lembramos a escalação do timaço de 82, mas não tão facilmente a de 94. Agora é hora de recolher os cacos para começar algo novo, algo de que possamos nos orgulhar. Sonhar não custa: a derrota de ontem poderia ser o início da construção de uma nova “pátria amada, Brasil”!

PERDEMOS O RUMO

Os alemães é que jogam o futebol brasileiro. Pep Guardiola, à época treinador do Barcelona, tendo humilhado o Santos na final do Mundial de Clubes com a vitória de 4 a 0, disse que seu time estava jogando o que seu avô diria que era o futebol brasileiro. Ontem, o sonho do hexa virou pó diante de uma equipe que jogou o jogo que nós jogamos por décadas. Até dizem que fomos nós, os brasileiros, que o inventamos. Um futebol de toques, objetivo, rápido, claro que com mais dinâmica e físico do que no passado. Alegre, que encanta. Desde pequeno até outro dia, se chamava de cintura dura o jogador alemão. Agora, precisamos reinventar uma identidade para nosso fut ou vamos virar saco de pancadas, de humilhação em humilhação!

A HUMILHAÇÃO DE ONTEM NÃO FOI POR ACASO

Não quero parecer oportunista. Até por que as críticas ao jeito Felipão/ Parreira de jogar futebol já foram feitas e, caso ganhássemos a Copa, aqui não haveria exclamações de que o jogo de ligações diretas, sem meio campo, de cai-cai, de time mais faltoso e truculência representava algo a ser valorizado. Na verdade, desde 1986 que não temos uma Seleção que nos orgulhe, jogando bonito e sendo competitiva. Precisamos mudar muita coisa. Algo essencial é que as divisões de base dos clubes passem a valorizar o talento e não a força. A estrutura de poder na CBF precisa ser implodida.

Temos que abandonar a mentalidade de que os outros é que devem nos copiar, que não temos nada a aprender... E por aí vai. A Alemanha chegou onde chegou fruto de um processo de quase uma década de trabalho, iniciado antes da Copa de 2006. Foi aprender, planejar e colheu resultados. A construção deste novo futebol levou Guardiola para o Bayern e seus sete jogadores levaram o jogo de toque de bola para seleção alemã, nos impondo o baile de bola inédito numa semifinal de Copa. Enquanto eles faziam a revolução, nós fomos nos aproximando, no campo, do antigo futebol alemão. Ao mesmo tempo, mantivemos a estrutura arcaica do nosso fut e eles modernizaram a deles. A pior escolha dos dois mundos!

ESPERANÇA EM ALTA. ESPERE SÓ UM POUQUINHO...

Em abril de 2015 assumirá a CBF o sr. Marco Polo Del Nero. Um sucessor direto de Ricardo Teixeira e de José (da medalha) Marin. Não temos o direito de esperar nada que não seja o melhor desta nova gestão do futBr! (não é sério, gente).

FIM HONROSO, POR FAVOR...

Sei que temos nossas revoltas represadas, pecados a espiar, muitas injustiças, como os péssimos serviços oferecidos pelo Estado brasileiro a seu povo, mas fomos nós que pedimos para a Copa vir para nosso país. Não ganhamos a Copa no campo, mas podemos nos comportar bem neste fim de Mundial. Podemos conquistar uma grande vitória, que é seguir tratando nossos convidados muito bem e aplaudir a diversão dos que ficaram na disputa. Vamos acertar as contas aqui dentro de casa, depois do fim da festa!

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