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Faltam lâmpadas, água, papel e pessoal na Ufba

Dois dias após anúncio de corte de R$ 60 milhões, até bibliotecas estavam fechando mais cedo por atrasos em pagamento de terceirizados.

27 de março - 2015 às 07h55
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Thais Borges // Correio 24h

Biblioteca fechando mais cedo — com direito a breu entre as prateleiras e ar-condicionado quebrado. Faculdade sem água e banheiros sem papel higiênico. Equipamentos sem funcionar e sem previsão de reparo. Empresas terceirizadas, que contratam vigilantes, seguranças, agentes de limpeza e porteiros, sem receber. Professores e alunos pagando do próprio bolso a compra de  material. “Temos que fazer muito sacrifício para continuar com a pesquisa. Precisa sempre de um jeitinho”, conta o estudante do doutorado em Química da Universidade Federal da Bahia (Ufba) Leonardo Teles, 28 anos. A situação está longe de ser só dele: ontem, o CORREIO visitou 10 institutos e faculdades da Ufba e escutou funcionários, professores e alunos de 12 cursos. Todos tinham uma lista de problemas na ponta da língua e acrescentavam uma nova preocupação: a redução de custos anunciada em carta da Reitoria na última segunda-feira. 

Foi só depois que a universidade divulgou uma carta anunciando a diminuição em contratos de terceirizados e gastos com custeio (água, energia e telefone),  que muita gente ficou sabendo da crise da Ufba. No entanto, para quem vive a universidade, os tais tempos difíceis já tinham começado em 2014. Serão R$ 60 milhões a menos no orçamento de custeio de 2015 da Ufba — ao todo, eram esperados R$ 180 milhões. Devido às limitações orçamentárias anunciadas pelo governo federal, o repasse às universidades foi reduzido em um terço. Inicialmente, a assessoria da Ufba informou que o valor total a ser recebido era R$ 310 milhões, mas corrigiu o número. Em reunião com reitores das federais,  o Ministério da Educação (MEC) informou, ontem,  no entanto, que pelo menos este mês, o repasse de recursos não teve contingenciamento. A notícia é boa, porém a Ufba já registra  um “expressivo déficit” referente ao ano de 2014 — o valor continua não sendo informado pela instituição.

Livros no breu

Na Biblioteca Central da Ufba, o problema vai além de um apagar de luzes (parte das lâmpadas do setor de empréstimos está quebrada) e do calor sem ar-condicionado. Por conta do atraso no pagamento dos funcionários terceirizados, o horário de fechamento foi encurtado: passou das 22h para 18h desde a semana passada. “Teve dia de eu chegar antes e não conseguir livro”, diz a estudante do 3º semestre de Biologia Maria Lua Costa, 19. Para completar, parte do forro cedeu há meses e pode terminar de cair a qualquer momento. Na biblioteca da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, em São Lázaro, quem chegasse depois das 14h na semana passada não conseguia mais retirar livros. Normalmente, o local funciona até às 17h, mas, com salários atrasados por 15 dias (só foram pagos anteontem), funcionários da terceirizada Líder faziam rodízio para trabalhar. “Vinha num dia, folgava no outro. Sem transporte ou alimentação. Estava pagando pra trabalhar”, desabafa um funcionário que não quis se identificar. 


"É complicado. Tenho minhas contas, mas terceirizado é assim. Tenho esperança" diz Eduardo Alves, funcionário terceirizado da Facom (Foto: Marina Silva)


Também contratado pela empresa, o agente de portaria da Faculdade de Comunicação Eduardo Alves, 48, fez sacrifícios para trabalhar, durante duas semanas, sem receber. Mesmo com o anúncio de redução de até 25% nos contratos com terceirizados, ele tenta ser otimista.  “É complicado. Tenho minhas contas, mas terceirizado é assim. Tenho esperança”.  Nenhum representante da Líder foi localizado ontem. Ao todo, a Ufba tem contratos com 47 empresas e conta com 2.061 prestadores de serviços. O gasto com eles é de R$ 5,8 milhões por mês.

Desespero

Lá em Química, Leonardo Telles e os colegas já fizeram vaquinha para comprar ventilador para o laboratório (o ar-condicionado não funciona) e mantém uma “caixinha do desespero”: um cofrinho feito por pesquisadores que trabalham ali para comprar água mineral e pó de café. “A capela, que é o espaço para colocar o solvente orgânico, não funciona direito. Não tem manutenção, então a gente improvisa”. O diretor do Instituto de Química, Dirceu Martins, não tem dúvidas: dias difíceis estão vindo por aí. A sorte é que, pelo menos no primeiro semestre, não há risco de parar as atividades porque os professores fizeram estoque de material no ano passado. “Economizar água e energia está na ordem do dia para qualquer um. Mas o que me preocupa é ter um corte nos terceirizados. Tem áreas que dá para limpar dia sim, dia não, mas laboratórios não”, alerta.

Na Faculdade de Odontologia, a situação é parecida, segundo o diretor Marcel Arriaga. “Em Saúde, não dá para economizar em algumas áreas. Vamos colaborar com o que for possível. Atendemos 600 pessoas por dia. Precisamos de ar-condicionado para evitar proliferação de micro-organismos. A limpeza tem que ser contínua nos ambulatórios. Outro dia, quebrou um equipamento e consertamos com dinheiro meu e do vice-diretor”, revela. Em meio a uma vida de apertos, os estudantes já nem sabem mais de onde tirar. “Vamos economizar do que não tem? O ar-condicionado não funciona, temos aula no calor. A gente divide até material ao meio nas aulas. Nem papel higiênico tem”, diz a estudante Caroline Ventura, 21, do 2º semestre de Odonto.

Sem água

Se antes era comum encontrar papel nos banheiros da Escola Politécnica, a coisa também mudou este semestre. “Faltam coisas que eram regulares. Sempre fazíamos visitas técnicas de ônibus, trabalhos externos. E agora não vai ter, né?”, conta o aluno de Engenharia Civil Hércules Barreto, 24 anos, do 6º semestre, referindo-se à orientação de suspender as viagens na Ufba. Quem estuda em São Lázaro nem sempre encontra água, segundo a estudante de Psicologia Ana Beatriz Pereira, 18. “Ontem (anteontem) não tinha. É comum que os banheiros sejam interditados”. De acordo com a coordenadora-geral do Diretório Central dos Estudantes (DCE), Lorena Pacheco, isso se repete há dois meses. “A gente sabe que, quando há qualquer problema no orçamento, quem mais sofre são os estudantes. Tem bolsas atrasadas há um mês”.    A Ufba garantiu que não vai promover cortes na assistência estudantil.

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