Maria Regina Mouta
Com caráter amplificador dos diálogos sobre a escrita negra, será realizada de 3 a 7 de novembro, em versão totalmente online e com tradução e interpretação em libras, a primeira edição da Festa Afro-Literária. Idealizada na Chapada dos Veadeiros, na cidade de Cavalcante (GO), o evento reúne grandes nomes do cenário literário e artístico negro como Elisa Lucinda, Ryane Leão, Luedji Luna, Ellen Oléria, além de representantes locais, como Bia Kalunga, Malu Martins e Wanderléia Kalunga.
Com a narrativa Literatura Quilombola: entre a tradição e o afrofuturismo, a festa conta com oficinas, rodas de conversa e apresentações artísticas. Fazem parte da programação: curso de formação de escrita, estudos percussivos enquanto linguagem e lançamento de publicações independentes. Calila das Mercês, doutora em literatura e uma das coordenadoras da Festa, destaca a importância desse festival: “Este evento nasceu negro, como proposta reparadora de uma sociedade que sonega a nossa existência. Diante de todos os desafios estruturais [o evento] é sem dúvidas um sonho-resistência que desejamos vida longa”.
“Queremos apresentar a pluralidade das nossas artes literárias, as diversidades de movimentos criativos dos nossos trabalhos e honrar neste evento a nossa ancestralidade, as tantas mãos e mentes negras que edificaram este país de ponta a ponta”, completa. Para Edymara Diniz, mestre em artes cênicas e também idealizadora do evento, a Festa nasceu com o intuito de ampliar o conhecimento da comunidade local. “Cavalcante está sendo uma janela para mundo. Uma forma de chamar atenção para necessidade que ainda temos de fomentar nossa cena cultural e os artistas quilombolas Kalungas que temos aqui”, diz.
Uma das convidadas da Festa, a escritora Ryane Leão conversou com o Metrópoles sobre suas expectativas sobre o evento. “O que eu espero é que cada vez mais pessoas negras se ergam e contem suas histórias. Toda história importa”, disse. Ryane participa de uma mesa redonda que discute processos literários, vivências e referências na cultura afro. Para ela, o evento firma raízes e reverbera as vozes negras, criando conexões com a literatura. Perguntada sobre a importância de se promover festivais como esse, em um Brasil racista e negacionista, a escritora disse que “precisamos dessa troca e desse fortalecimento como combustível de luta e continuidade. Nos curamos em coletivo”.
Para participar da Festa, basta acessar o perfil do festival no Facebook ou no Canal do Youtube.