Por Daniel Pinto
Tenho o hábito de guardar agendas. Ao pegar, por acaso, a do ano 2000, passei os olhos e encontrei um breve registro de uma experiência familiar (também usava as agendas como uma espécie de diário, mais parecido com um registro de bordo, com anotações cruas) e considerações sobre o filme 2001: Uma Odisseia no Espaço (Stanley Kubrick – 1968). Encontrei um rabisco com muitos questionamentos e inquietações. O filme mexe comigo: sempre causa vertigem e lança olhares obscuros.
Depois de conhecer por completo o poema sinfônico Assim Falou Zaratustra, de Richard Strauss, e estudar a obra de Nietzsche, as interrogações são ainda maiores. É impressionante como a vontade de potência de Kubrick sugou Arthur Clarke como um buraco negro e determinou a criação do livro, escrito enquanto auxiliava na construção do roteiro de 2001.
Ainda vivemos o alvorecer da humanidade? Onde estão as sentinelas? Quais os limites do espaço? Quais os limites entre filosofia e misticismo? Nesta viagem interdimensional conduzida por Stanley Kubrick só há flashes dos conceitos que a humanidade possui sobre vida, morte, início dos tempos; e das ideias sobre espiritualidade, trevas e o além-infinito.
Como um monólito enigmático, perfeito e assustador, essa infinitude - que ao mesmo tempo é cósmica e particular - gera uma angustia devastadora, em função do imenso volume de informações e lacunas que permanecem abertas numa estrutura cartesiana de raciocínio.
De volta ao patamar rasteiro do dia a dia, sem traje lunar ou tubos de oxigênio, tenho que admitir: meu medo é que essas divagações sejam pensamentos inapropriados para época em que a educação brasileira zerou o Enem e pensar se tornou artigo de luxo.
* Daniel Pinto é jornalista e editor do sertaobaiano.com.br