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Lapão: população sofre com lixão a céu aberto e problemas de saneamento básico

Secretário municipal de Infraestrutura culpa Codevasf e diz que “bosta fede em qualquer lugar”.

03 de junho - 2014 às 17h37
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Fotos: Beavis / Sertão Baiano

Daniel Pinto

Nesta terça-feira (3), após denúncias de moradores da sede e zona rural de Lapão, no norte do Estado, a reportagem do Sertão Baiano esteve na cidade para visitar o lixão público, situado às margens da BA 432, e algumas ruas e equipamentos públicos que são prejudicados por problemas de esgotamento sanitário. A primeira parada foi na Praça José Augusto, Centro, onde foi instalado uma Estação Elevatória de Bombeamento de Rede de Esgoto. “A gente sofre com o mau cheiro, insetos e com um lodo preto que sai da tubulação quando eles ligam essa fossa”, reclama Alípio Camerino, que há mais de 25 anos trabalha na metalúrgica Lapão. “O mau cheiro é constante, mas quando chove os dejetos ficam boiando pela praça”, garante Aliomar Rocha de Souza, proprietário de uma lanchonete em frente à praça, que culpa o poder público pela diminuição no número de clientes. “Quem vai querer comer com uma porcaria dessa?”, questiona.

O problema se repete nas Ruas João José da Silva e José Vilela, onde moradores - a exemplo de Eliana de Araújo Dourado e Adriano Vilela - se queixam dos transtornos causados à população. “Já reclamamos, mas a Prefeitura só faz paliativos”, denuncia Eliana, que mora com o marido no local há 30 anos. Na Rua José Vilela, a reportagem pôde constatar que a “boca de lobo”, responsável pelo escoamento da água da chuva, está entupida com areia e detritos. “Sempre foi ruim. Mas, depois das últimas obras, a situação ficou terrível. Tive que construir uma barreira na porta da minha casa. Caso contrário, o esgoto invade a sala. Infelizmente, não posso receber visitas nem cozinhar com a janela aberta”, lamenta a aposentada Aurisabete de Souza, residente no logradouro há 40 anos.

A situação é ainda mais crítica na Escola Zenalia Dourado Lopes. A reportagem do Sertão Baiano acompanhou uma inspeção da vereadora Aline Dourado (PT), que apontou uma série de irregularidades dentro da unidade de ensino administrada pela Prefeitura de Lapão. De acordo com a petista, a Administração Municipal instalou uma vala que passa pelo canto do muro da escola e desemboca num terreno particular. Além disso, dentro do mesmo espaço físico, existe uma espécie de “respiro” em que o esgoto corre a céu aberto. “Além do crime ambiental, que será denunciado ao Ministério Público, as crianças da Educação Infantil e Ensino Fundamental estão expostas ao risco de doenças infectocontagiosas”, observou Aline Dourado.

Funcionários da Escola Zenalia Dourado Lopes, que pediram anonimato, sustentam que a situação foi levada ao conhecimento das Secretarias de Infraestrutura e Educação, que fazem “vistas grossas”.

Doenças e Lixo Hospitalar

O Sertão Baiano também esteve no lixão da cidade, que salta aos olhos de quem trafega pela BA 432, saindo da sede de Lapão em direção ao distrito de Aguada Nova. De acordo com o catador Antônio Pereira da Silva, que trabalha no local há 5 anos, em média 10 caçambas de lixo são lançadas no terreno por semana: “vem lixo de Lapão, Aguada Nova e Tanquinho [povoado]. Eles jogam resíduos doméstico, entulho, material de poda e até lixo hospitalar. Vem tudo misturado. Mas, a gente conhece o lixo do Hospital Municipal pelo saco preto e branco. Já cansei de ver seringa, gazes e outras coisas”.

A informação foi confirmada pela catadora Jovelina Alves da Silva, moradora do bairro Ieda Cardoso. “Antes eles queimavam o material hospitalar num buraco, mas agora vem tudo misturado”, afirma Jovelina, que sustenta dois filhos com o que ganha da reciclagem de ferro, papelão e plástico.

Em todo município, a Vila Castro, devido à proximidade geográfica, é a comunidade mais afetada com os poluentes que são lançados no ar pela queima do lixo. Em pouco mais de uma hora no povoado, foi possível ouvir relatos de problemas respiratórios, crises alérgicas e outras doenças que afetam crianças, adultos e até animais.

“Bosta fede em qualquer lugar, meu amigo”

Apesar das evidências e dos testemunhos, o secretário municipal de Infraestrutura, Wilson Bráulio Cardoso, minimizou a situação. Segundo o gestor, os problemas de saneamento na sede do município foram causados por intervenções “irresponsáveis” feitas pela Codevasf. “Se existe um problema de execução, a culpa não é nossa. Mas, a verdade é que bosta fede em qualquer lugar, meu amigo, seja aqui, em Salvador ou no Rio de Janeiro”, disse durante reunião que contou com a presença da vereadora Aline Dourado (PT). Quanto ao lixão, o secretário negou que o lixo hospitalar seja despejado no local. “Esse material é levado para Feira de Santana”, garantiu.

Entretanto, Wilson Bráulio Cardoso admite que o lixo recolhido em Lapão será lançado no local até a conclusão do aterro sanitário, construído pelo Consórcio Público de Desenvolvimento Sustentável do Território de Irecê, que vai atender os municípios da região. “Até lá, não temos outra alternativa. Muito pior é a Prefeitura de Irecê, que joga toda aquele lixo na beira da estrada de Itapicuru”.

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