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Sérgio Sampaio é homenageado nos 25 anos da morte

Documentário, turnê e shows celebram legado do autor de Eu Quero É Botar Meu Bloco na Rua.

30 de setembro - 2019 às 10h14

RAPHAEL VIDIGAL // O TEMPO

Uma figura esguia, de cabelos escuros e longos que emolduram um rosto vincado e magro, canta com voz estridente, incisiva e repetidamente a palavra “botar”, enquanto interage com seu violão como se copulasse com ele. A apresentação visceral de Sérgio Sampaio (1947-1994) no VII Festival Internacional da Canção, em 1972, foi o ápice da carreira do cantor capixaba, nascido na mesma cidade de Roberto Carlos, Cachoeiro do Itapemirim, e morto há 25 anos. Embora não tenha ficado entre as vencedoras, a marcha-rancho “Eu Quero É Botar Meu Bloco na Rua” foi selecionada para um compacto que vendeu mais de 500 mil cópias. Até hoje, muita gente reconhece a assinatura de Sérgio apenas por esse capítulo épico de sua trajetória. Mas o LP em que a canção foi lançada, inaugurando a áspera relação do jovem aspirante a astro com o mercado fonográfico, “foi um fiasco”, como relembra o crítico musical Jotabê Medeiros.

“A canção não conseguiu catapultá-lo junto para o sucesso, e o Sérgio acabou refém dessa música”, observa Medeiros, que define o hit como “fácil de ser absorvido na superfície e, ao mesmo tempo, profundo”. “É uma letra que fala sobre a ditadura militar, ela é corajosa e ampla, no sentido de compreender o Brasil do Oiapoque ao Chuí”, analisa. Fruto do casamento de cinco anos com a arquiteta Ângela Breitschaft e filho único de Sérgio, João Sampaio confessa que “não imaginava que a música fosse ter tanto significado novamente”. “Ela sempre foi um grito de sufocamento”, destaca ele, que já assistiu à turnê “Bloco na Rua”, de Ney Matogrosso.

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Filme 

O nome do intérprete aparece ensanguentado e, logo abaixo, o rosto dele é reproduzido, fazendo caretas, em vários frames. Essa é a capa do tal primeiro disco de Sérgio, de 1973, inspirada na faixa “Filme de Terror”. “Hoje em dia vivemos tempos sombrios, o Sérgio ficaria louco com isso”, acredita Hugo Moura, que há cinco anos pesquisa material para o documentário que ele espera finalizar em breve e batizado, até o momento, de “Sinceramente Sérgio”, em alusão ao título do derradeiro disco do cantor, de 1982. 

A ideia é que o próprio protagonista conduza a narrativa, com músicas e depoimentos registrados em gravadores caseiros, que trazem reflexões existenciais, políticas e até sobre o corpo do compositor. “A magreza dele é um fato que chocava as pessoas e, nessas fitas que encontrei, ele comenta que era apenas uma questão de biótipo”, informa Moura. Nessa busca, o cineasta, que dirigiu “A Primeira Vez do Cinema Brasileiro” (2013), teve acesso a inúmeras raridades. Numa delas, Sérgio canta “Esotérico”, de Gilberto Gil; em outra, interpreta o poema “O Celo e a Flauta”, de Vinicius de Moraes.

“Tem muita coisa da década de 70 que vai surpreender os fãs, o Sérgio sempre foi um cara muito independente, que ficou meio de canto na música brasileira”, afirma Moura. “Ele não se dobrava às vontades comerciais das gravadoras, foi um cara meio cigano, que morou na casa de dezenas de pessoas. Em 1974, ele ganhou o Troféu Imprensa de revelação do ano e, até hoje, esse troféu está em um bar no Espírito Santo, porque ele deixou lá e nunca mais voltou para buscar”, completa o diretor.

Um exemplo desse comportamento é revelado pelo próprio Sérgio na canção “Eu Não Minto quando Eu Faço”, um dos achados de Moura. Nela, o cantor recusa o pedido de um produtor para compor sob encomenda. A versão foi registrada no Cabaré Mineiro, em 1986. A cantora Cida Moreira, que em novembro volta ao cartaz com o espetáculo “Boleros & Outras Delícias: Canções de Sérgio Sampaio”, conta que conviveu com Sérgio. “Ele não fazia firula, nem tinha fissura pelo sucesso”, define. João diz que a obra do pai é “atemporal por ser muito humana”. “Ele se expunha muito, e isso fala sobre cada um de nós”, conclui. 
 

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