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Viagem do medo pela Estrada do Feijão

O relato de uma aventura cheia de desafios e perigos entre Feira de Santana e Irecê.

26 de agosto - 2015 às 22h02
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Fotos: Adriana Cerqueira / Sertão Baiano

Por Daniel Pinto

26 de agosto de 2015. A previsão do tempo é de sol com poucas nuvens. Às 10h a temperatura é de 23° C. A placa instalada no início da BA-052, a conhecida Estrada do Feijão, anuncia que 360 quilômetros separam Feira de Santana e Irecê, no norte do estado. “Uma viagem tranquila e agradável”, pensa o desavisado. Antes mesmo do Posto da Polícia Rodoviária é possível identificar buracos superficiais espalhados pela pista e muitos arbustos invadindo o acostamento nos dois sentidos. Logo após o Km 30, uma placa completamente encoberta pela vegetação alerta: reduza a velocidade área escolar. Na entrada de Anguera, o Cristo está de costas para a pista (sentido Feira / Xique-Xique) como sinal de protesto pelo que estar por vir. Não muito distante, um boi morto lança um cheiro pútrido no ar. Com a certeza de que a carcaça não será removida, os urubus se preparam para o banquete. 
 


O desgaste na rodovia contrasta com as belezas naturais de uma paisagem exuberante, que mistura características de Chapada e Semiárido. Nas imediações de Ipirá, uma ponte assusta pelo estado avançado de deterioração: ferragens expostas e rachaduras comprovam a ação impiedosa do tempo. No trecho, a sinalização é muito precária. Próximo à Baixa Grande aparecem alguns reparos na pista, mas, ao que tudo indica, a empresa responsável pela manutenção tapou os mais rasos e deixou os mais perigosos para outra ocasião. Contingenciamento de despesas? Será? Como se sabe, o assunto é uma espécie de “verdade secreta” no Centro Administrativo da Bahia. O fato inconteste é que o poder público tem sido negligente. 
 


 

Depois de Mundo Novo, perto do Km 216, um imenso buraco numa curva fechada exige grande perícia de motoristas e coloca em risco a vida daqueles que não possuem veículo com tração nas quatro rodas. Para quem tem carro popular, com motor 1.0, é praticamente impossível trafegar acima de 40 km/h. As circunstâncias favorecem a ação de bandidos, que espalham medo pela Estrada do Feijão. O clima de terror se agrava se a viagem for à noite, o que é ainda pior pela falta de iluminação pública e pelo “buraco” na cobertura da telefonia celular.
 


 

A situação começa a melhorar no início da Serra do Angelim, em Morro do Chapéu: o asfalto é novo, a sinalização está visível e o acostamento volta a ser uma alternativa viável para quem precisa fazer uma parada de emergência. Entretanto, a sensação de segurança provocada pelas boas condições logo desaparece. Afinal, condutores irresponsáveis trafegam acima da velocidade permitida na via para “recuperar o tempo perdido”. Em João Dourado, depois de mais de 346 km de viagem, nenhum sinal de radar eletrônico ou blitz de alcoolemia.
 


 

“Ufa! Estou chegando em casa”, diz o motorista com enxaqueca e dores nas articulações. Ao avistar a placa da cidade natal, mesmo quem não tem fé, agradece a Deus pela bênção de estar vivo. Enquanto isso, aqueles que deviam garantir a qualidade da BA-052 só se deslocam de jatinho. É mais rápido, cômodo e seguro.

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